Danças e Ritmos
As danças ocupam um espaço nobre dentro do tradicionalismo gaúcho. Tanto como expressão de emotividade quanto uma manifestação de arte, que requer técnica e habilidade. Desde os primórdios, a dança se constitui num exercício para corpo e um descanso para espírito. A topografia do terreno, a vestimenta, o espírito, a idiossincrasia e a emotividade do indivíduo, foram os pontos de apoio em que se assentaram as bases para a formação coreográfica que se criou em cada setor do universo. Segue algumas danças e ritmos:
Danças em Grupos (Invernadas)
Anu: Dança típica do fandango gaúcho, o "Anu" divide-se em duas partes totalmente distintas: uma para ser cantada, e outra para ser sapateada. Aproxima-se bastante da "Quero-Mana", principalmente pelo passeio cerimonioso que os pares realizam. O período que o "Anu" gozou de maior popularidade, no Rio Grande do Sul, foi em meados do século passado.
♪ O Anu é pass'o preto, ai,
O Anu é pass'o preto, ai,
Passarinho de verão,
Ai, passarinho de verão, ai!
(palmas)
O Anu é pass'o preto, ai,
Quando canta a meia-noite,
Dá uma dor no coração,
Ai, dá uma dor no coração, ai!
E se tu, Anu, soubesse, ai,
E se tu, Anu, soubesse,
Quanto custa um bem querer,
Ai, quanto custa um bem querer, ai!
(palmas)
Ai se tu, Anu, soubesse, ai,
Por certo não cantarias
Nas horas do amanhecer
Ai, nas horas do amanhecer, ai! ♪
Balaio: O balaio é brasileiro da gema e procede do Nordeste. O balaio guarda nitidamente a feição de nossos velhos lundus que criaram, no Nordeste do Brasil, o baião ou baiano. O nome “balaio” origina-se do aspecto de cesto que moças dão as suas saias, quando o cantador diz: “moça que não tem balaio, bota a costura no chão”.
Teve suas raízes na chula. Inicialmente dançada de pares soltos, com cantigas e danças. Com a evolução surgiu o balaio híbrido, com momentos de pares soltos e outros enlaçados, sempre com sapateios de peões e giros das prendas. O balaio, como o próprio nome diz, sugere uma dança de círculo.
♪Eu queria ser balaio balaio eu queria sê,
para andar dependurado na cintura de você.
Eu queria ser balaio na colheita da mandioca
para andar dependurado na cintura das chinocas.
Mandei fazer um balaio Pra guardar meu algodão,
balaio saiu pequeno Não quero balaio não.
Refrão:
Balaio, meu bem, balaio, sinhá, balaio do coração.
Moça que não tem balaio, sinhá, bota a costura no chão (bis). ♪
Cana-Verde: A “Cana-verde” chegou de Portugal e se tornou popular em vários estados brasileiros. Naturalmente foi adquirida cores locais, em cada região e dessa forma produzindo variantes da dança-origem. A coreografia foi a mais difundida no nordeste e litoral do Rio Grande do Sul.
♪Eu plantei a cana-verde sete palmo de fundura. (bis)
Não levou nem sete dia e a cana estava madura. (bis)
Ai-ai! Meu bem! (4 vezes)
Não levou nem sete dia e a cana estava madura.
Eu plantei a cana-verde ninguém me ajudou a plantar. (bis)
Depois da cana madura todos queriam chupar. (bis)
(Refrão)
Ai-ai! Meu Bem! (4 vezes)
Depois da cana madura todos queriam chupar. ♪
Caranguejo: Diz Oneyda Alveranga que o “caranguejo foi popular no país todo e sobre ele há referência desde o século XIX. É dança grave, de pares dependentes, lembrando uma muito possível origem no minueto. No Rio Grande do Sul o primeiro registro musical foi feito por Alcides Cruz, para o “Anuário do Rio Grande do Sul”, de 1903.
Chimarrita ou Chamarrita: Com o nome de Chama-Rita, foi introduzida pelos colonos açorianos ao inicio da formação do Rio Grande do Sul, esta dança era então popular no Arquipélago dos Açores e na Ilha da Mandeira. Desde a sua chegada, a “chamarrita" foi-se amoldando às subseqüentes gerações coreográficas, como um misto de valsa e chotes. Do Rio Grande do Sul (e de Santa Catarina), a dança passou ao Paraná, ao Estado de São Paulo, bem como às províncias argentinas de Corrientes e Entre Rios, onde ainda hoje são populares as variantes “Chamarrita e Chamame”.
Variação:
♪ Chimarrita vou cantar
Qu'inda hoje não cantei (bis)
Deus lhe dê muita boa noite
Qu'inda hoje não lhe dei (bis)
Chimarrita morreu ontem,
ontem mesmo se enterrou (bis)
Quem falar da chimarrita
Leva o fim que ela levou (bis)
Chimarrita que eu canto
Veio de cima-da-serra (bis)
A pular de galho em galho
até chegar na minha terra (bis) ♪
Chotes: Tal como acentecera com as danças de anteriores ciclos coreográficos, a “schottisch” vio a se amoldar, no Rio Grande do Sul, a instrumentação típica, e deu margem a uma nova criação musical, bastante viva e que hoje constitui verdadeira manifestação folclórica do gaúcho, é o chotes. É também usual a pronúncia “chote”.
Coreográficamente o chotes herdou os mesmos passos da dança-origem, mas se enriqueceu de uma série de variantes.
Variações:
♪ Mas deixa-estar que eu vou-me embora,
Eu vou voltar pro meu rincão,
Pra beber água dos teus olhos
Sangue do teu coração.
Mas deixa-estar que eu vou-me embora,
Eu vou voltar pro meu rincão,
Que é pra comer churrasco gordo
E tomar mate chimarrão.
Mas deixa-estar que eu vou-me embora,
Eu vou voltar pra fronteira,
Que é pra comer churrasco gordo
E tomar café de chaleira
Mas deixa-estar que eu vou-me embora,
Eu vou voltar pra fronteira,
Mas eu hei-de levar comigo
Este chotes-laranjeira! ♪
Chula: Um dos mais importantes livros-de-viagem referente ao Estado do Rio Grande do Sul – a “Notícia Descrita da Província do Rio Grande de São Pedro do Sul,” escrita por Nicolau Dreys em 1817 e publicada em 1839 - foi acentuado por uma passagem da obra, em que o viajante nos fala que a sociedade dos gaúchos era uma sociedade sem mulheres. Naquela época, “gaúcho” era um termo pejorativo indígena, homem sem lar e sem querência – bem distinto do campeiro das estâncias, apegado à terra e à família. O tempo passa-se em jogar, tocar ou escutar uma guitarra n’ alguma pulperia, e às vezes, dançando chula, sem a participação de mulheres, enfim a chula é dança de agilidade masculina ou de habilidade sapateadora, em que os executantes demonstram suas qualidades individuais.
A Chula reveste-se de particular importância no nosso folclore, pois encarna os traços do propalado machismo gaúcho. Num universo de masculinidade, a Chula era o símbolo do espírito másculo, retratando a força e a agilidade do peão, em clima de disputas.
Dança muito difundida em Portugal e também dançada pelos Açorianos. A Chula caracteriza-se pela agilidade do sapateio do peão ou diversos peões, em disputas, sapateando sobre uma lança estendida no salão.
♪ Venha seu mestre chula, ai seu chuliador,
E dê uma paradinha para o tocador!
Venha seu mestre chula, ai que chulia bem,
E dê uma paradinha para mim também! ♪
Dança dos Facões: Danças de esgrima, em que, ao invés de porretes ou bastões, se usam espadas ou facas de verdade, são registradas na Ásia, na Europa Oriental, na África muçulmana, em regiões onde se encontram aglomerados predominantemente masculinas. Cada dançarino mune-se de dois facões, afiados, e as evoluções exigem destreza, acuidade, reflexos rápidos.
Malambo: Tradicional sapateado argentino, executado apenas por homens. Do folclore o malambo passou ao teatro tradicionalista argentino e hoje foi incorporado, com muito entusiasmo às festas típicas dos tradicionalistas uruguaios e sul-riograndeses. Além de uma melodia tradicional, inconfundível, há várias melodias de malambo criadas por eméritos compositores platinos, dando oportunidade ao surgimento de notáveis criações coreográficas, artísticas, onde os dançarinos fazem malabarismo com base no tema folclórico original.
Maçanico: Essa dança, por suas características coreográficas, parece ser portuguesa (apesar da música adquirir, quando executada por violinistas autenticos do Rio Grande do Sul, um estilo sincopado muito próprio, alheio à música portuguesa). Com o nome de “Maçanico” surgiu no Estado de Santa Catarina e daí passou ao nordeste e litoral do Rio Grande do Sul.
É uma de nossas danças mais animadas. O nome maçanico é corruptela de maçanico, ave das lagoas.
♪ Maçanico, maçanico, maçanico do banhado (bis)
Quem não dança o maçanico não arruma namorado (bis)
Maçanico, maçanico, mas que bicho impertinente! (bis)
Maçanico vai-te embora! Na tua casa chegou gente! (bis)
Maçanico, maçanico se põe na sala a dançar (bis)
Maçanico, pula e corre bate as asas pra voar (bis)
Maçanico, maçanico, mas que bicho impertinente! (bis)
Maçanico vai-te embora! Na tua casa chegou gente! (bis) ♪
Pau-de-fitas: Nenhuma dança, como o “Pau-de-fitas”, pode merecer, com tamanha propriedade, o nome “dança universal” e é de todo infrutífero, ao pesquisador, tentar buscar-lhe o ponto geográfico de origem, pois a “dança das fitas” parece surgir de todos os lados e em todos os povos. A tese mais acertada é a do folclore argentino Carlos Veja que vê na “dança das fitas” uma sobrevivência das solenidades de cultura às árvores, tão disseminada entre os povos primitivos. O Nome da música que é dançada chama-se “Meu Cabelo”.
♪ Muitas vezes me dá uma gana de fazer certas asneiras
De rasgar a bandeirinha da Maria Brasileira (bis)
Não sei o que tem meu cabelo que não combina com a banha
Quanto mais eu passo o pente mais meu cabelo se assanha (bis)
Muitas vezes me dá uma gana de fazer certas asneiras
De rasgar a bandeirinha da Maria Brasileira (bis)
Não sei o que tem meu cabelo que não combina com a banha
Quanto mais eu passo o pente mais meu cabelo se assanha
Não sei o que tem meu cabelo que com a banha não combina
Quanto mais eu passo o pente mais meu cabelo se assanha ♪
Pericóm: Como reflexo do que ocorrera em Paris e em toda América, surgiu no Prata, na primeira dança de um conjunto chamada “Pericom”. Da província de Entre-rios e a Banda da Oriental do Uruguai o ”Pericom” passou à campanha do Rio Grande do Sul. Na fronteira entre o Brasil e o Uruguai.
Pezinho: O “Pézinho” constitui uma das mais simples e ao mesmo tempo uma das mais belas danças gaúchas. Como dança e como elemento de festas, foi e é ainda muito popular em Portugal e nos Açores, veio a gozar de intensa popularidade no litoral dos estados brasileiros de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.
É necessário frisar que o "Pezinho" é a única dança popular rio-grandense em que todos os dançarinos obrigatoriamente cantam, não se limitando, portanto, à simples execução da coreografia.
♪ Ai bota aqui, ai bota ali o teu pezinho, o teu pezinho bem juntinho com o meu.
Ai bota aqui, ai bota ali o teu pezinho, o teu pezinho o teu pezinho ao pé do meu.
Depois não vá dizer que você já me esqueceu (bis)
(refrão)
E no chegar desse teu corpo um abraço quero eu (bis)
(refrão)
Agora que estamos juntinhos dá cá um abraço e um beijinho (bis) ♪
Rancheira de carreirinha: A rancheira é uma versão da mazurca argentina e uruguaia. No Brasil, sua difusão se dá após o aparecimento do rádio. É importante notar que a rancheira é uma "valsa abagualada", com ritmo mais animado e dançante que a própria valsa. A primeira rancheira de sucesso no Rio Grande foi a argentina Mate Amargo. É interessante notar que poucos conjunto musicais têm em seu repertório rancheiras. O ritmo musical é mais difundido nas regiões missioneiras do que no lado centro-sul do Estado.
♪ Vem cá, vem cá, minha linda gauchinha
Pra nós dançar, rancheira de carreirinha
Nesta parte, a dança é fácil porque só se tem que rancheirar
Mas, depois, já se complica por isso vou lhe explicar
Leve um pé bem para o lado, puxe o outro pé e repita este passo
E depois a carreirinha, mas, não vá perder o compasso
Um passo e outro, e, agora, a carreirinha
Pra o outro lado, esta parte é puladinha
Esta parte, a dança é fácil, só tem que dançar a carreirinha
Pois se o índio se descuida, pisa os pés da gauchinha
E, agora, minha gente, vamos todo mundo a rodear
Mas, se alguém tiver vontade, que se prenda a sapatear. ♪
Ratoeira: Dança em formação de roda, aparentada com as cirandas, que se difundiu nas áreas de cultura açoriana do Estado de Santa Catarina. No Rio Grande do Sul sua presença foi assinalada apenas no litoral-norte e planalto de Vacaria
Rilo: Paris importou juntamente com as contradanças uma dança da Escócia chamada ‘reel’ em formação de roda e utilizando a figura do 8, com o nome ’ril’ a dança foi apreciada nos salões brasileiros em meados do século passado e daí chegou aos meios rurais rio-grandenses, onde a denominação foi aportuguesada para ‘rilo’.
Roseira: Uma das danças regionais sul-rio-grandenses onde se percebe maior parentesco com danças regionais de Portugal, numa confirmação de tese do foco de origem comum.
Sarrabalho: É uma das danças gaúchas mais características da geração coreográfica de pares soltos, com o homem parecendo perseguir à mulher, ambos castanholando com os dedos, forte sapateado, tudo de acordo com a longínqua origem ibérica.
Tatu: O "Tatu" era uma das cantigas do fandango gaúcho (entremeiadas de sapateado). Mesmo após o desaparecimento das danças sapateadas, continuou o "Tatu" a existir, sob a forma de uma "décima" popular em todo o Rio Grande do Sul (chama-se "décima", neste estado, a uma história contada em versos com dez frases).
Devido à popularidade com que se cantou a história do Tatu, observou-se, nessa dança do fandango, algo bastante curioso: chegou uma época em que o sapateado passou a se executar simultaneamente com a execução do canto - numa exceção à regra geral de que o canto interrompe a dança no fandango.
♪ Eu vim pra contar a história
De um tatu que já morreu
Passando muito trabalho
Por este mundo de Deus.
Anda roda, o Tatu é meu,
Voltinha-no-meio, o Tatu é teu (bis)
O Tatu é bicho manso
Nunca mordeu a ninguém:
Só deu uma dentadinha
Na perninha do seu bem.
Anda a rota, tatu-da-roça
Moça bonita da perna grossa. (bis) ♪
Variações:
Tirana: A “tirana” foi uma das danças espanholas mais difundida na América Latina. Afirma-se que a “tirana” nasceu em Madri, em 1773, lançada pela cantora Maria Rosário Fernandez, esposa de um ator cognominado “El Tirano”.
Dança de pares soltos e com sapateios. Nos primeiros tempos a Tirana era exclusivamente de pares soltos, mas com o tempo, foi se transformando em contradança, com momentos de pares soltos e outros de pares enlaçados. Algumas formas da Tirana: Tirana do Ombro (peões e prendas tocam-se no ombro) e Tirana do Lenço (peões e prendas acenam lenços, em manifestações amorosas).
Danças de Salão
Bugio: Este ritmo puramente gaúcho, rude como animal das indomáveis querências, brotou da gaita 48 baixos de Neneca Gomes – Wencelau da Silva Gomes – nas serras de Mato Grande, 5.º distrito de São Francisco de Assis, o umbigo Rio Grande do Sul, como denominava Getúlio Vargas esta região. Muito popular nestes pagos por suas habilidades musicais, Neneca Gomes procurou imitar o ronco do Bugio por volta de 1928, tendo em seguida chegado numa espécie de canto cadenciado que levou o nome de “os Três Bugios”, em homenagens a estes bichos domesticados que tinha em casa. A música muito popular entre os gaiteiros da região missioneira de São Francisco de Assis, Santiago. Bossoroca, Jaguarí e São Borja, ganhou impulso e notoriedade maior a partir dos estudos musicais realizados por Paixão Cortes e Barbosa Lessa e, posteriormente, com a gravação dos irmãos Bertussi e um pouco mais tarde a divulgação feita pelo músico Leonardo. O Bugio é uma composição de notas retratando a vida simples da campanha onde a dança permanece muito cultuada embora a música tenha ganho as cidades. “O Bugio é cantado em diversas facetas. Em momentos representa o piá arteiro, peão destemido, moço faceiro etc. Noutra o próprio animal, numa defesa e valorização ecológica da fauna gaúcha.
Chamamé: Ritmo originário da Argentina, a difusão deste gênero de música na década de 40 se deve em princípio às gravadoras de Buenos Aires e advento do rádio.No Rio Grande do Sul a entrada deste ritmo se deve em muito a proximidade do Brasil e suas fronteiras com países como a Argentina e o Uruguai. Outros gêneros de músicas como a Milonga, o Tango e o Bolero tiveram e ainda têm influência direta na história da formação musical do Rio Grande do Sul. Assim também o chamamê teve sua influência na cultura musical do Estado, principalmente nos últimos vinte anos; foi um dos que mais se popularizou, fazendo hoje parte de todo tipo de encontro onde houver música regional.O chamamê dançado por argentinos ou uruguaianos, em que a marcação também é ternária, assemelha-se à marcação da valsa, nada tem a ver com as loucuras feitas hoje em dia nos nossos bailes, onde acabaram inventando o chamachote ou choteme e, depois, na hora de dançar um chote, caminham como se fosse um chamamê.Opções para figuras ou variações dentro do chamamê, seriam algumas figuras de tango, que, mesmo antes de fazerem parte do tango, já ilustravam as polcas, chamamês e milongas. Vale dizer aqui rapidamente sobre o por quê motivo falo do tango: é que este surgiu primeiro como dança, mas depois se casou com o ritmo do tango andaluz que chegou a região dos pampas. Antes os passos, que depois virão a casar com o ritmo aprendido nos camdombes, eram dançados pelos compadritos em ritmos da sociedade de então, entre estes o chamamê.
Milonga: É um ritmo argentino, mas de origem africana e que surgiu no fim séc. XIX. Inicialmente era considerada vulgar. Seu nome provém do dialeto angolano quimbundo e significa palavra. Foi esse nome que o povo deu ao canto dos payadores. Nascida nos arredores de Buenos Aires, alguns autores ainda alegam que teria surgido a partir da mazurca.A milonga foi introduzida no Rio Grande do Sul inicialmente na fronteira, ao som do violão, o acompanhamento predileto dos declamadores gaúchos.A milonga no Rio Grande do Sul é dançada com a marcação de 2 e 1, duas marcações feitas com uma perna e a outra fazendo deslocamento com um passo para frente ou para trás.
Rancheira: É uma versão da mazurca, muito divulgada no séc. XIX em toda a comunidade européia. Este ritmo é também muito conhecido no sul da Argentina como ranchera ou, inicialmente, “mazurca de rancho”. No Rio Grande do Sul, segundo Paixão Cortes e Babosa Lessa, a divulgação deste ritmo se deu em maior escala com o aparecimento do rádio, sendo uma versão regional da mazurca polonesa. Sua coreografia é executada de três maneiras: primeiro como uma espécie de valsa, típica da fronteira; depois, à maneira serrana, a rancheira sendo dançada com maior vitalidade, com forte marcação na primeira batida; finalmente, ela é dançada no litoral, onde sua forma mais usada é a marchadinha, ou seja, com passos duplos de terol (segundo Paixão Cortes e Barbosa Lessa são passos duplos de marcha), onde o homem empurra e puxa a mulher e onde o par se segura nos cotovelos, como a Chimarrita Balão (dança do folclore gaúcho).Na primeira maneira de dançar, ou seja, na rancheira da fronteira, a marcação é como valsa, ma com a diferença de que é feita uma forte marcação no primeiro passo, no tempo mais forte da música, maneira esta mais utilizada na fronteira do Estado. A segunda é a rancheira serrana, cujo passo é executado saindo do chão, com vitalidade e sendo mais pulada, mas mantendo os passos da primeira. A diferença está na execução. A terceira marcação possível é a de utilizar sua coreografia é de forma puladinha ou marchadinha, como a utilizada no litoral do Rio Grande do Sul.
Valsa: Walsem (em alemão= andar, peregrinar ou dar voltas). Daí provém o nome valsa. A dança surgiu do antigo minueto, claro que com forte influência de ritmos nacionais da Áustria como Leander e o Deustscher, Tanz sendo a primeira dança de salão de pares enlaçados firmemente. Nas primeiras notícias sobre valsa, temos menção de apresentações datadas de 1660 em Viena, difundindo-se no ínicio do século passado para a França e a Inglaterra. Sendo esta dança tocada em compasso ternário allegro, sempre com diversas partes.
Vanera: Origina-se da habanera, que é um ritmo, cubano de danças e canções, nome este dado em referência a esta capital Havana (La Habana).Seu compasso é binário, de moderado a lento ritmo que foi se popularizar no século XIX e foi muito utilizado por compositores espanhóis e franceses.No Brasil, influenciou não somente ritmos do Rio Grande do Sul, mas também outros, como o samba-canção.No Rio Grande do Sul, a nossa vanera adotou nomenclaturas diversas, como vaneirinha, vanerão ou, ainda, limpa-banco.Dançada assim, com marcação 2 e 2, nos salões do Rio Grande do Sul, dançada puladinha (no que lembra o passo do Bugio) ou arrastada, esta marcação é feita em qualquer direção.O homem inicia com o pé esquerdo indo em diagonal; logo depois, o segundo passo é dado para frente. Entre estes dois movimentos, o outro pé desloca-se levemente em um pequeno arrastar.Os pés partem da posição inicial já indicada nos fundamentos da postura, sendo que os primeiros passos são feitos como se quiséssemos formar um horário de dez para as duas.
Fonte:
Manual de danças Gaúchas, J. C. Paixão Cortes e L. C. Barbosa Lessa
http://www.cantogauderio.com.br
http://www.paginadogaucho.com.br
http://www.musicas.mus.br
http://www.beakauffmann.com
http://www.rstche.com.br
Danças em Grupos (Invernadas)
Anu: Dança típica do fandango gaúcho, o "Anu" divide-se em duas partes totalmente distintas: uma para ser cantada, e outra para ser sapateada. Aproxima-se bastante da "Quero-Mana", principalmente pelo passeio cerimonioso que os pares realizam. O período que o "Anu" gozou de maior popularidade, no Rio Grande do Sul, foi em meados do século passado.
♪ O Anu é pass'o preto, ai,
O Anu é pass'o preto, ai,
Passarinho de verão,
Ai, passarinho de verão, ai!
(palmas)
O Anu é pass'o preto, ai,
Quando canta a meia-noite,
Dá uma dor no coração,
Ai, dá uma dor no coração, ai!
E se tu, Anu, soubesse, ai,
E se tu, Anu, soubesse,
Quanto custa um bem querer,
Ai, quanto custa um bem querer, ai!
(palmas)
Ai se tu, Anu, soubesse, ai,
Por certo não cantarias
Nas horas do amanhecer
Ai, nas horas do amanhecer, ai! ♪
Balaio: O balaio é brasileiro da gema e procede do Nordeste. O balaio guarda nitidamente a feição de nossos velhos lundus que criaram, no Nordeste do Brasil, o baião ou baiano. O nome “balaio” origina-se do aspecto de cesto que moças dão as suas saias, quando o cantador diz: “moça que não tem balaio, bota a costura no chão”.
Teve suas raízes na chula. Inicialmente dançada de pares soltos, com cantigas e danças. Com a evolução surgiu o balaio híbrido, com momentos de pares soltos e outros enlaçados, sempre com sapateios de peões e giros das prendas. O balaio, como o próprio nome diz, sugere uma dança de círculo.
♪Eu queria ser balaio balaio eu queria sê,
para andar dependurado na cintura de você.
Eu queria ser balaio na colheita da mandioca
para andar dependurado na cintura das chinocas.
Mandei fazer um balaio Pra guardar meu algodão,
balaio saiu pequeno Não quero balaio não.
Refrão:
Balaio, meu bem, balaio, sinhá, balaio do coração.
Moça que não tem balaio, sinhá, bota a costura no chão (bis). ♪
Cana-Verde: A “Cana-verde” chegou de Portugal e se tornou popular em vários estados brasileiros. Naturalmente foi adquirida cores locais, em cada região e dessa forma produzindo variantes da dança-origem. A coreografia foi a mais difundida no nordeste e litoral do Rio Grande do Sul.
♪Eu plantei a cana-verde sete palmo de fundura. (bis)
Não levou nem sete dia e a cana estava madura. (bis)
Ai-ai! Meu bem! (4 vezes)
Não levou nem sete dia e a cana estava madura.
Eu plantei a cana-verde ninguém me ajudou a plantar. (bis)
Depois da cana madura todos queriam chupar. (bis)
(Refrão)
Ai-ai! Meu Bem! (4 vezes)
Depois da cana madura todos queriam chupar. ♪
Caranguejo: Diz Oneyda Alveranga que o “caranguejo foi popular no país todo e sobre ele há referência desde o século XIX. É dança grave, de pares dependentes, lembrando uma muito possível origem no minueto. No Rio Grande do Sul o primeiro registro musical foi feito por Alcides Cruz, para o “Anuário do Rio Grande do Sul”, de 1903.
Chimarrita ou Chamarrita: Com o nome de Chama-Rita, foi introduzida pelos colonos açorianos ao inicio da formação do Rio Grande do Sul, esta dança era então popular no Arquipélago dos Açores e na Ilha da Mandeira. Desde a sua chegada, a “chamarrita" foi-se amoldando às subseqüentes gerações coreográficas, como um misto de valsa e chotes. Do Rio Grande do Sul (e de Santa Catarina), a dança passou ao Paraná, ao Estado de São Paulo, bem como às províncias argentinas de Corrientes e Entre Rios, onde ainda hoje são populares as variantes “Chamarrita e Chamame”.
Variação:
- Chimarrita-Balão: A “Chimarrita-Balão” é conhecida somente no litoral-norte e planalto-do-nordeste do Rio Grande do Sul. “Balão” foi uma dança bastante vulgarizada em Portugal no Século passado, e teve, no Brasil, variantes como ‘Balão-Faceiro”. Não encontramos, a não ser na denominação, a mínima semelhança entre a “Chimarrita-Balão” e a tradicional “Chimarrita”.
♪ Chimarrita vou cantar
Qu'inda hoje não cantei (bis)
Deus lhe dê muita boa noite
Qu'inda hoje não lhe dei (bis)
Chimarrita morreu ontem,
ontem mesmo se enterrou (bis)
Quem falar da chimarrita
Leva o fim que ela levou (bis)
Chimarrita que eu canto
Veio de cima-da-serra (bis)
A pular de galho em galho
até chegar na minha terra (bis) ♪
Chotes: Tal como acentecera com as danças de anteriores ciclos coreográficos, a “schottisch” vio a se amoldar, no Rio Grande do Sul, a instrumentação típica, e deu margem a uma nova criação musical, bastante viva e que hoje constitui verdadeira manifestação folclórica do gaúcho, é o chotes. É também usual a pronúncia “chote”.
Coreográficamente o chotes herdou os mesmos passos da dança-origem, mas se enriqueceu de uma série de variantes.
Variações:
- Chote de duas damas: Bonita variante do chote, em que o homem dança com duas damas simultaneamente. Essa presença de duas mulheres não é raridade: antigas danças germânicas também foram assim, os platinos tiveram o “palito”, e na cidade de São Paulo dançou-se da década de 20 um “chote militar” com duas damas. Não necessita de melodia específica, dança-se ao som de um chote comum. Por nós é dançada com partitura de “Chote Laranjeira”.
- Chote Inglês: Dança de salão difundido nas cidades brasileiras ao final do século XIX. Suas melodias, executadas ao piano nos centros urbanos, chegaram a ser conhecidas no meio rural. Registramos algumas variantes de chote inglês em várias regiões do Rio Grande do Sul.
- Chote Carreirinha: Originária do schottinh trazido pelos imigrantes alemães. Na primeira parte da dança, os pares desenvolvem uma pequena corrida compassada, o que deu razão ao nome da dança: carreirinha.
♪ Mas deixa-estar que eu vou-me embora,
Eu vou voltar pro meu rincão,
Pra beber água dos teus olhos
Sangue do teu coração.
Mas deixa-estar que eu vou-me embora,
Eu vou voltar pro meu rincão,
Que é pra comer churrasco gordo
E tomar mate chimarrão.
Mas deixa-estar que eu vou-me embora,
Eu vou voltar pra fronteira,
Que é pra comer churrasco gordo
E tomar café de chaleira
Mas deixa-estar que eu vou-me embora,
Eu vou voltar pra fronteira,
Mas eu hei-de levar comigo
Este chotes-laranjeira! ♪
Chula: Um dos mais importantes livros-de-viagem referente ao Estado do Rio Grande do Sul – a “Notícia Descrita da Província do Rio Grande de São Pedro do Sul,” escrita por Nicolau Dreys em 1817 e publicada em 1839 - foi acentuado por uma passagem da obra, em que o viajante nos fala que a sociedade dos gaúchos era uma sociedade sem mulheres. Naquela época, “gaúcho” era um termo pejorativo indígena, homem sem lar e sem querência – bem distinto do campeiro das estâncias, apegado à terra e à família. O tempo passa-se em jogar, tocar ou escutar uma guitarra n’ alguma pulperia, e às vezes, dançando chula, sem a participação de mulheres, enfim a chula é dança de agilidade masculina ou de habilidade sapateadora, em que os executantes demonstram suas qualidades individuais.
A Chula reveste-se de particular importância no nosso folclore, pois encarna os traços do propalado machismo gaúcho. Num universo de masculinidade, a Chula era o símbolo do espírito másculo, retratando a força e a agilidade do peão, em clima de disputas.
Dança muito difundida em Portugal e também dançada pelos Açorianos. A Chula caracteriza-se pela agilidade do sapateio do peão ou diversos peões, em disputas, sapateando sobre uma lança estendida no salão.
♪ Venha seu mestre chula, ai seu chuliador,
E dê uma paradinha para o tocador!
Venha seu mestre chula, ai que chulia bem,
E dê uma paradinha para mim também! ♪
Dança dos Facões: Danças de esgrima, em que, ao invés de porretes ou bastões, se usam espadas ou facas de verdade, são registradas na Ásia, na Europa Oriental, na África muçulmana, em regiões onde se encontram aglomerados predominantemente masculinas. Cada dançarino mune-se de dois facões, afiados, e as evoluções exigem destreza, acuidade, reflexos rápidos.
Malambo: Tradicional sapateado argentino, executado apenas por homens. Do folclore o malambo passou ao teatro tradicionalista argentino e hoje foi incorporado, com muito entusiasmo às festas típicas dos tradicionalistas uruguaios e sul-riograndeses. Além de uma melodia tradicional, inconfundível, há várias melodias de malambo criadas por eméritos compositores platinos, dando oportunidade ao surgimento de notáveis criações coreográficas, artísticas, onde os dançarinos fazem malabarismo com base no tema folclórico original.
Maçanico: Essa dança, por suas características coreográficas, parece ser portuguesa (apesar da música adquirir, quando executada por violinistas autenticos do Rio Grande do Sul, um estilo sincopado muito próprio, alheio à música portuguesa). Com o nome de “Maçanico” surgiu no Estado de Santa Catarina e daí passou ao nordeste e litoral do Rio Grande do Sul.
É uma de nossas danças mais animadas. O nome maçanico é corruptela de maçanico, ave das lagoas.
♪ Maçanico, maçanico, maçanico do banhado (bis)
Quem não dança o maçanico não arruma namorado (bis)
Maçanico, maçanico, mas que bicho impertinente! (bis)
Maçanico vai-te embora! Na tua casa chegou gente! (bis)
Maçanico, maçanico se põe na sala a dançar (bis)
Maçanico, pula e corre bate as asas pra voar (bis)
Maçanico, maçanico, mas que bicho impertinente! (bis)
Maçanico vai-te embora! Na tua casa chegou gente! (bis) ♪
Pau-de-fitas: Nenhuma dança, como o “Pau-de-fitas”, pode merecer, com tamanha propriedade, o nome “dança universal” e é de todo infrutífero, ao pesquisador, tentar buscar-lhe o ponto geográfico de origem, pois a “dança das fitas” parece surgir de todos os lados e em todos os povos. A tese mais acertada é a do folclore argentino Carlos Veja que vê na “dança das fitas” uma sobrevivência das solenidades de cultura às árvores, tão disseminada entre os povos primitivos. O Nome da música que é dançada chama-se “Meu Cabelo”.
♪ Muitas vezes me dá uma gana de fazer certas asneiras
De rasgar a bandeirinha da Maria Brasileira (bis)
Não sei o que tem meu cabelo que não combina com a banha
Quanto mais eu passo o pente mais meu cabelo se assanha (bis)
Muitas vezes me dá uma gana de fazer certas asneiras
De rasgar a bandeirinha da Maria Brasileira (bis)
Não sei o que tem meu cabelo que não combina com a banha
Quanto mais eu passo o pente mais meu cabelo se assanha
Não sei o que tem meu cabelo que com a banha não combina
Quanto mais eu passo o pente mais meu cabelo se assanha ♪
Pericóm: Como reflexo do que ocorrera em Paris e em toda América, surgiu no Prata, na primeira dança de um conjunto chamada “Pericom”. Da província de Entre-rios e a Banda da Oriental do Uruguai o ”Pericom” passou à campanha do Rio Grande do Sul. Na fronteira entre o Brasil e o Uruguai.
Pezinho: O “Pézinho” constitui uma das mais simples e ao mesmo tempo uma das mais belas danças gaúchas. Como dança e como elemento de festas, foi e é ainda muito popular em Portugal e nos Açores, veio a gozar de intensa popularidade no litoral dos estados brasileiros de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.
É necessário frisar que o "Pezinho" é a única dança popular rio-grandense em que todos os dançarinos obrigatoriamente cantam, não se limitando, portanto, à simples execução da coreografia.
♪ Ai bota aqui, ai bota ali o teu pezinho, o teu pezinho bem juntinho com o meu.
Ai bota aqui, ai bota ali o teu pezinho, o teu pezinho o teu pezinho ao pé do meu.
Depois não vá dizer que você já me esqueceu (bis)
(refrão)
E no chegar desse teu corpo um abraço quero eu (bis)
(refrão)
Agora que estamos juntinhos dá cá um abraço e um beijinho (bis) ♪
Rancheira de carreirinha: A rancheira é uma versão da mazurca argentina e uruguaia. No Brasil, sua difusão se dá após o aparecimento do rádio. É importante notar que a rancheira é uma "valsa abagualada", com ritmo mais animado e dançante que a própria valsa. A primeira rancheira de sucesso no Rio Grande foi a argentina Mate Amargo. É interessante notar que poucos conjunto musicais têm em seu repertório rancheiras. O ritmo musical é mais difundido nas regiões missioneiras do que no lado centro-sul do Estado.
♪ Vem cá, vem cá, minha linda gauchinha
Pra nós dançar, rancheira de carreirinha
Nesta parte, a dança é fácil porque só se tem que rancheirar
Mas, depois, já se complica por isso vou lhe explicar
Leve um pé bem para o lado, puxe o outro pé e repita este passo
E depois a carreirinha, mas, não vá perder o compasso
Um passo e outro, e, agora, a carreirinha
Pra o outro lado, esta parte é puladinha
Esta parte, a dança é fácil, só tem que dançar a carreirinha
Pois se o índio se descuida, pisa os pés da gauchinha
E, agora, minha gente, vamos todo mundo a rodear
Mas, se alguém tiver vontade, que se prenda a sapatear. ♪
Ratoeira: Dança em formação de roda, aparentada com as cirandas, que se difundiu nas áreas de cultura açoriana do Estado de Santa Catarina. No Rio Grande do Sul sua presença foi assinalada apenas no litoral-norte e planalto de Vacaria
Rilo: Paris importou juntamente com as contradanças uma dança da Escócia chamada ‘reel’ em formação de roda e utilizando a figura do 8, com o nome ’ril’ a dança foi apreciada nos salões brasileiros em meados do século passado e daí chegou aos meios rurais rio-grandenses, onde a denominação foi aportuguesada para ‘rilo’.
Roseira: Uma das danças regionais sul-rio-grandenses onde se percebe maior parentesco com danças regionais de Portugal, numa confirmação de tese do foco de origem comum.
Sarrabalho: É uma das danças gaúchas mais características da geração coreográfica de pares soltos, com o homem parecendo perseguir à mulher, ambos castanholando com os dedos, forte sapateado, tudo de acordo com a longínqua origem ibérica.
Tatu: O "Tatu" era uma das cantigas do fandango gaúcho (entremeiadas de sapateado). Mesmo após o desaparecimento das danças sapateadas, continuou o "Tatu" a existir, sob a forma de uma "décima" popular em todo o Rio Grande do Sul (chama-se "décima", neste estado, a uma história contada em versos com dez frases).
Devido à popularidade com que se cantou a história do Tatu, observou-se, nessa dança do fandango, algo bastante curioso: chegou uma época em que o sapateado passou a se executar simultaneamente com a execução do canto - numa exceção à regra geral de que o canto interrompe a dança no fandango.
♪ Eu vim pra contar a história
De um tatu que já morreu
Passando muito trabalho
Por este mundo de Deus.
Anda roda, o Tatu é meu,
Voltinha-no-meio, o Tatu é teu (bis)
O Tatu é bicho manso
Nunca mordeu a ninguém:
Só deu uma dentadinha
Na perninha do seu bem.
Anda a rota, tatu-da-roça
Moça bonita da perna grossa. (bis) ♪
Variações:
- Tatu, com volta no meio: Nos primeiros tempos, o “tatu”, como legítima dança do fandango, consistia num sapateado pelos pares soltos, sem maiores características. Posteriormente, o “tatu” sofreu a intromissão, em sua coreografia, da “Volta-no-Meio” – uma dança que se tornou popular no Brasil em meados do século XX.
- Tatu Novo: Em 1954, quando da visita a Porto Alegre da Sociedade Crioulla El Pericón, de Montevidéu, foi prestada uma homenagem aos visitantes com uma dança nova, deliberadamente montada pelo CTG “35” para assinalar aquele grato encontro. Trata-se de uma adaptação à música do “Anuário”, com base do antigo sapateado à gaúcha. Essa criação coreográfica tornou a ser apresentada posteriormente, por outros grupos, e ganhou nos círculos tradicionais o nome de tatu “novo”.
Tirana: A “tirana” foi uma das danças espanholas mais difundida na América Latina. Afirma-se que a “tirana” nasceu em Madri, em 1773, lançada pela cantora Maria Rosário Fernandez, esposa de um ator cognominado “El Tirano”.
Dança de pares soltos e com sapateios. Nos primeiros tempos a Tirana era exclusivamente de pares soltos, mas com o tempo, foi se transformando em contradança, com momentos de pares soltos e outros de pares enlaçados. Algumas formas da Tirana: Tirana do Ombro (peões e prendas tocam-se no ombro) e Tirana do Lenço (peões e prendas acenam lenços, em manifestações amorosas).
Danças de Salão
Bugio: Este ritmo puramente gaúcho, rude como animal das indomáveis querências, brotou da gaita 48 baixos de Neneca Gomes – Wencelau da Silva Gomes – nas serras de Mato Grande, 5.º distrito de São Francisco de Assis, o umbigo Rio Grande do Sul, como denominava Getúlio Vargas esta região. Muito popular nestes pagos por suas habilidades musicais, Neneca Gomes procurou imitar o ronco do Bugio por volta de 1928, tendo em seguida chegado numa espécie de canto cadenciado que levou o nome de “os Três Bugios”, em homenagens a estes bichos domesticados que tinha em casa. A música muito popular entre os gaiteiros da região missioneira de São Francisco de Assis, Santiago. Bossoroca, Jaguarí e São Borja, ganhou impulso e notoriedade maior a partir dos estudos musicais realizados por Paixão Cortes e Barbosa Lessa e, posteriormente, com a gravação dos irmãos Bertussi e um pouco mais tarde a divulgação feita pelo músico Leonardo. O Bugio é uma composição de notas retratando a vida simples da campanha onde a dança permanece muito cultuada embora a música tenha ganho as cidades. “O Bugio é cantado em diversas facetas. Em momentos representa o piá arteiro, peão destemido, moço faceiro etc. Noutra o próprio animal, numa defesa e valorização ecológica da fauna gaúcha.
Chamamé: Ritmo originário da Argentina, a difusão deste gênero de música na década de 40 se deve em princípio às gravadoras de Buenos Aires e advento do rádio.No Rio Grande do Sul a entrada deste ritmo se deve em muito a proximidade do Brasil e suas fronteiras com países como a Argentina e o Uruguai. Outros gêneros de músicas como a Milonga, o Tango e o Bolero tiveram e ainda têm influência direta na história da formação musical do Rio Grande do Sul. Assim também o chamamê teve sua influência na cultura musical do Estado, principalmente nos últimos vinte anos; foi um dos que mais se popularizou, fazendo hoje parte de todo tipo de encontro onde houver música regional.O chamamê dançado por argentinos ou uruguaianos, em que a marcação também é ternária, assemelha-se à marcação da valsa, nada tem a ver com as loucuras feitas hoje em dia nos nossos bailes, onde acabaram inventando o chamachote ou choteme e, depois, na hora de dançar um chote, caminham como se fosse um chamamê.Opções para figuras ou variações dentro do chamamê, seriam algumas figuras de tango, que, mesmo antes de fazerem parte do tango, já ilustravam as polcas, chamamês e milongas. Vale dizer aqui rapidamente sobre o por quê motivo falo do tango: é que este surgiu primeiro como dança, mas depois se casou com o ritmo do tango andaluz que chegou a região dos pampas. Antes os passos, que depois virão a casar com o ritmo aprendido nos camdombes, eram dançados pelos compadritos em ritmos da sociedade de então, entre estes o chamamê.
Milonga: É um ritmo argentino, mas de origem africana e que surgiu no fim séc. XIX. Inicialmente era considerada vulgar. Seu nome provém do dialeto angolano quimbundo e significa palavra. Foi esse nome que o povo deu ao canto dos payadores. Nascida nos arredores de Buenos Aires, alguns autores ainda alegam que teria surgido a partir da mazurca.A milonga foi introduzida no Rio Grande do Sul inicialmente na fronteira, ao som do violão, o acompanhamento predileto dos declamadores gaúchos.A milonga no Rio Grande do Sul é dançada com a marcação de 2 e 1, duas marcações feitas com uma perna e a outra fazendo deslocamento com um passo para frente ou para trás.
Rancheira: É uma versão da mazurca, muito divulgada no séc. XIX em toda a comunidade européia. Este ritmo é também muito conhecido no sul da Argentina como ranchera ou, inicialmente, “mazurca de rancho”. No Rio Grande do Sul, segundo Paixão Cortes e Babosa Lessa, a divulgação deste ritmo se deu em maior escala com o aparecimento do rádio, sendo uma versão regional da mazurca polonesa. Sua coreografia é executada de três maneiras: primeiro como uma espécie de valsa, típica da fronteira; depois, à maneira serrana, a rancheira sendo dançada com maior vitalidade, com forte marcação na primeira batida; finalmente, ela é dançada no litoral, onde sua forma mais usada é a marchadinha, ou seja, com passos duplos de terol (segundo Paixão Cortes e Barbosa Lessa são passos duplos de marcha), onde o homem empurra e puxa a mulher e onde o par se segura nos cotovelos, como a Chimarrita Balão (dança do folclore gaúcho).Na primeira maneira de dançar, ou seja, na rancheira da fronteira, a marcação é como valsa, ma com a diferença de que é feita uma forte marcação no primeiro passo, no tempo mais forte da música, maneira esta mais utilizada na fronteira do Estado. A segunda é a rancheira serrana, cujo passo é executado saindo do chão, com vitalidade e sendo mais pulada, mas mantendo os passos da primeira. A diferença está na execução. A terceira marcação possível é a de utilizar sua coreografia é de forma puladinha ou marchadinha, como a utilizada no litoral do Rio Grande do Sul.
Valsa: Walsem (em alemão= andar, peregrinar ou dar voltas). Daí provém o nome valsa. A dança surgiu do antigo minueto, claro que com forte influência de ritmos nacionais da Áustria como Leander e o Deustscher, Tanz sendo a primeira dança de salão de pares enlaçados firmemente. Nas primeiras notícias sobre valsa, temos menção de apresentações datadas de 1660 em Viena, difundindo-se no ínicio do século passado para a França e a Inglaterra. Sendo esta dança tocada em compasso ternário allegro, sempre com diversas partes.
Vanera: Origina-se da habanera, que é um ritmo, cubano de danças e canções, nome este dado em referência a esta capital Havana (La Habana).Seu compasso é binário, de moderado a lento ritmo que foi se popularizar no século XIX e foi muito utilizado por compositores espanhóis e franceses.No Brasil, influenciou não somente ritmos do Rio Grande do Sul, mas também outros, como o samba-canção.No Rio Grande do Sul, a nossa vanera adotou nomenclaturas diversas, como vaneirinha, vanerão ou, ainda, limpa-banco.Dançada assim, com marcação 2 e 2, nos salões do Rio Grande do Sul, dançada puladinha (no que lembra o passo do Bugio) ou arrastada, esta marcação é feita em qualquer direção.O homem inicia com o pé esquerdo indo em diagonal; logo depois, o segundo passo é dado para frente. Entre estes dois movimentos, o outro pé desloca-se levemente em um pequeno arrastar.Os pés partem da posição inicial já indicada nos fundamentos da postura, sendo que os primeiros passos são feitos como se quiséssemos formar um horário de dez para as duas.
Fonte:
Manual de danças Gaúchas, J. C. Paixão Cortes e L. C. Barbosa Lessa
http://www.cantogauderio.com.br
http://www.paginadogaucho.com.br
http://www.musicas.mus.br
http://www.beakauffmann.com
http://www.rstche.com.br